Professor: Alailson
Leal
REDAÇÃO
Alunos da Universidade
Estadual do Pará (Uepa) e integrantes de entidades ligadas ao movimento negro
afixaram, na manhã de ontem, cartazes com frases de repúdio à atitude da
professora Daniela Cordovil, acusada de agredir verbalmente o vigilante Rubens
Silva dos Santos e o aluno da universidade Paulo de Paula com injurias raciais,
na última sexta-feira. A Ouvidoria da Uepa abriu processo de investigação sobre
o incidente e deve recomendar à reitora a instauração de uma Comissão de
Sindicância para conduzir o caso. Na Seccional de São Brás, onde foi registrado
o crime, já houve a emenda do inquérito, que passou de injúria simples para
injuria racial, punível com até três anos de prisão. Para o responsável pela
Coordenação de Defesa da Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil
seção Pará (OAB-PA), Jorge de Farias, falta ao Judiciário uma maior atenção aos
casos denunciados, pois só tem conhecimento de uma condenação no Estado.
Desde cedo, dois
cartazes com dizeres que condenavam a atitude da professora e ressaltavam o
orgulho negro já figuravam no portão da universidade onde o problema ocorreu.
Entre os alunos, os sentimentos de revolta e perplexidade eram evidentes. 'Eu
estou com o coração apertado. Conhecia a professora, que sempre foi ótima e
jamais esperava algo assim vindo dela. Sou negra e umbandista. Acredito que
esse episódio gera uma reflexão. Só porque alguém tem amigos negros ou convive
com eles, isso significa que não é racista? Pois quando surge uma situação de
estresse, aquilo, que talvez ela nem soubesse que existia, veio à tona. Sangue
de negros quase todos nós temos, mas quem tem o fenótipo típico, como a cor da
pele ou o cabelo, sente isso de forma mais intensa', disse a estudante de
Letras Aline Correa, de 32 anos. A professora, doutora em Antropologia,
ministra a disciplina Antropologia das Religiões de Matriz Africana na
universidade.
O secretário geral do
Diretório Central de Estudantes da Uepa, Igor Augusto, condenou a situação.
'Estávamos aqui em reunião na sexta feira e quando saímos, percebemos a
confusão já armada. Fizemos questão de acompanhar o registro do Boletim de
Ocorrência na Seccional de São Brás e repudiamos a atitude tomada pela
professora', disse o jovem. O DCE se comprometeu ainda em acompanhar o processo
de investigação instaurado pela universidade e cobrar celeridade da instituição
e uma punição para a professora. Estudantes fizeram cartazes, pregados pelos
corredores e quadros de aviso da Uepa, condenando qualquer tipo de preconceito.
Um integrante da União
de Negros pela Igualdade (Unegro), Vanderlei Pinheiro, também esteve na
instituição para acompanhar as providências a serem tomadas pela Uepa. 'A
impunidade só faz com que o problema se agrave ainda mais. Já estamos
acompanhando o caso desde sexta e cobraremos a justiça', disse. A entidade
informou, ainda durante o final de semana, à Coordenação de Defesa da Igualdade
Racial da OAB-PA e à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do
Pará (Alepa) sobre o caso.
A Ouvidoria da Uepa
convocou ontem os três envolvidos diretamente - a ofensora e os dois ofendidos
- para que prestem depoimentos e encaminhará o mais breve possível a
recomendação da instauração de uma Comissão Sindicante à Reitoria para apurar
e, caso seja verificada sua culpa, punir a docente. 'É importante ressaltar que
a universidade não comunga deste ou qualquer outro tipo de preconceito e
discriminação. A peça processual gerada será avaliada pela reitora assim que
for concluída', disse o diretor da Ouvidoria, professor Lairson Cabral. A
punição pode variar desde uma advertência verbal até o afastamento da
servidora. As vitimas devem ser ouvidas ainda hoje e a professora só dará seu
depoimento amanhã.
O Departamento de
Ciências da Religião, do qual a docente faz parte, também tem autonomia para
punir a professora, porém, a greve dos docentes da universidade previne que
qualquer atitude seja tomada no momento. Entre os alunos presentes na
instituição na manhã de ontem, a opinião era unânime de que Daniela Cordovil
não deve continuar em sua posição. 'Não tem mais clima para ela em uma sala de
aula após ter agredido um aluno e um funcionário desta forma', disse Igor.
O presidente do
Sindicato dos Vigilantes do Estado do Pará (Sindivipa) e presidente interino da
União Geral dos Trabalhadores no Pará, Juber Lopes, publica nota oficial da
entidade que dirige, se reportando em repúdio ao episódio. Ele informa que seu
sindicato, assim como a UGT, vão cobrar providências enérgicas na Justiça,
afinal, esta não é a primeira vez que um profissional é vítima de
constrangimento, quando pessoas 'contrariadas por não poder permanecer ou
acessar determinado local sob a guarda e vigilância desse profissional, gritam
e xingam o trabalhador, comportamento este não tolerado pelo sindicato da
categoria.
Juber justifica,
ainda, que o Brasil da atualidade não comunga mais de situações como essa,
afinal, 'o abismo entre o peão e o doutor foi extinto pela Constituição. Por
isso, o descontrole da professora lhe custará, além dos danos à imagem pessoal
e profissional, processos por preconceito racial e danos morais'.
Na Seccional de São
Brás, onde foi registrada a denúncia, o processo de emenda do inquérito já foi
iniciado. 'A principio, o vigilante não informou a injúria racial, falando
apenas dos demais termos. Porém, à luz destes novos fatos, já corrigimos o
inquérito e as intimações para os novos depoimentos devem ser assinadas pela
delegada Socorro Bezerra, responsável pelo caso, e enviadas aos envolvidos
amanhã mesmo', informou o diretor da Central de Flagrantes da Seccional,
delegado James Moreira de Sousa.
Além deste, outros
casos de Racismo, quando as ofensas são direcionadas a toda a raça, ou Injúrias
Raciais, quando a ofensa é individual, vem sendo acompanhados pela Coordenação
de Defesa da Igualdade Racial da OAB-PA. 'Nem todos os casos chegam ao nosso
conhecimento, pois eles não são centralizados pela Delegacia de Crimes Raciais,
que deveria tomar a frente dessas investigações e as informações acabam
espalhadas. Neste momento, existem seis casos em andamento, dos quais temos
conhecimento', disse Jorge.
A complexidade do
processo deste tipo de crime acaba facilitando a questão da impunidade, pois a
vítima, caso não tenha acompanhamento jurídico, não saberá o que fazer. 'Não
basta só fazer o Boletim de Ocorrência ou Termo de Circunstanciado de
Ocorrência, é preciso fazer também um queixa-crime. Se a pessoa não for
orientada por um advogado, acabará se perdendo no processo', advertiu.
A Defensoria Pública
também está apta a atender e aconselhar as vitimas de crimes raciais. Para o
advogado, falta ao Judiciário treinamento para lidar com este tipo de caso. 'É
preciso que as pessoas tenham mais atenção, no sentido da orientação e nos
pormenores do processo. Até hoje, no Pará, só sabemos de uma única condenação
de criminoso racial, que por coincidência, também se tratava de um professor',
lamentou.
Vigilante chamado de
‘macaco’ por professora diz que está abalado
Rubens dos Santos, o
vigilante agredido verbalmente por uma professora da disciplina de religião
afro da Universidade do Estado do Pará (Uepa) na última sexta-feira (14), disse
que ainda está abalado emocionalmente com situação. A polícia investiga a
denúncia. A instituição também vai apurar o caso através de medidas
administrativas.
'Ela veio por dentro
da universidade e chegou até a mim. Me xingou, me chamou de ‘macaco’, idiota,
disse que eu estava vestido de palhaço', conta o vigilante. 'Psicologicamente
eu estou muito afetado. Não consegui dormir. Há dois dias que eu só penso nisso,
nunca tinha passado por isso', afirma Rubens.
A professora está
sendo investigada pelo crime de injúria racial contra o trabalhador. De acordo
com presidente da Comissão de Defesa da Igualdade Racial da OAB-PA, Jorge
Farias, ele ficou surpreso com a postura da docente. 'Ela deveria ter
consciência e o dever de combater o racismo', explica Farias.
PROPOSTA – 01 - CARTA ARGUMENTATIVA
Escreva uma carta ao
reitor da Universidade Estadual do Pará manifestando sua opinião acerca do
fato. Assine a carta como futuro estudante desta instituição.
PROPOSTA – 02 - DISSERTAÇÃO
TEMA: ONDE VOCÊ GUARDA O SEU PRECONCEITO?
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